A radicalidade cristã e o mornismo
Nos tempos de hoje, por influência do secularismo, talvez estejamos vivendo um cristianismo adaptado, sem vivê-lo na sua essência. O relativismo traz para o meio cristão novos conceitos, novas filosofias e novas interpretações das verdades evangélicas – tudo aquilo que, de alguma forma, seja conveniente ao homem, que lhe traga benefícios, retribuição, troca ou qualquer tipo de prazer aqui nesta terra. No contexto moderno e adaptado de se viver o cristianismo, não é muito correto falar de cruz, santidade, sacrifício e muito menos de “radicalidade cristã”. A nova “teologia” e a influência secularista coloca o homem no centro de tudo e não mais Cristo; aí está o grande erro: quando Cristo deixa de ser o centro.Se não vivermos o cristianismo em sua essência, logo daremos espaço para um elemento típico dos tempos atuais – o “mornismo”. Ele invade nossa vida e nos traz um tipo de preguiça espiritual, tornando nossa vivência cristã superficial e sem autenticidade. Para evitar esse mornismo, precisamos suplicar fortemente a graça e a força do Espírito Santo em nossa vida, a fim de voltarmos ao verdadeiro cristianismo, em que Cristo é o centro e não “eu”; um cristianismo puro, simples, autêntico e, principalmente radical. Contudo, ser um cristão radical nos tempos de hoje não nos parece muito agradável. Mas, por que será? Será que é ruim ser um cristão radical? Vamos entender e tentar desmistificar alguns conceitos…
A palavra radical pode até nos incomodar como sendo algo desnecessário. Ouvimos muito hoje em dia as famosas frases: “Pra que tudo isso?…”, “Vocês são muito radicais…”, “Não precisa viver assim”…, e por aí vai…
Bom, existe uma diferença entre radicalidade e radicalismo. A palavra radical vem do latin ‘radix’ (raiz) e ‘radicalis’ (relativo à raiz). Radicalidade significa ir até a raiz das coisas, significa viver as coisas com profundidade e não ficar somente na superficialidade. Ser um cristão autêntico é ser radical e isso não é mal, ao contrário, é ser coerente com o nosso Batismo e com aquilo que nos decidimos viver. Já o radicalismo está muito relacionado ao desequilíbrio e exagero. No radicalismo despreza-se tudo por uma causa em questão, ultrapassando os limites até mesmo das leis naturais e morais inerentes ao ser humano, para favorecer uma determinada causa. Vemos muito isso hoje em dia.
Se formos analisar, perceberemos que o amor é essencialmente radical. Ele requer desprendimento, desapego, sacrifícios e doação total a Deus e ao próximo; e isso não é chamado apenas de alguns, mas de todos os batizados. Se você não for radical em muitas coisas em sua vida, não terá resultados satisfatórios, como: estudar com profundidade para passar em um vestibular, ser responsável e trabalhar bem para ser promovido em uma empresa e muitas outras coisas…
Se não houver a radicalidade cristã, com certeza virá o “mornismo”. Não há como as duas coisas caminharem juntas. Já diz a Escritura Sagrada: “Conheço as tuas obras: não és nem frio nem quente! Oxalá fosses frio ou quente! Mas, como és morno, nem frio, nem quente, vou vomitar-te” (Ap 3,15-16).
Precisamos estar atento à onda do “politicamente correto” e aos vários tipos de ideologias e teologias modernas. Não é o mundo que dita o que é correto e o que é melhor para nós, mas a Cristo. Porque ELE é a Verdade encarnada; é a imagem visível de Deus! N’Ele tudo encontra seu fundamento; n’Ele tudo existe; n’Ele e por Ele foram criadas todas as coisas. Ele existe antes de tudo e tudo existe por causa d’Ele! (Cl 1,15-17). A verdade é Ele e está n’Ele. Tudo aquilo que não estiver alinhado e em correspondência com a Sua verdade, pode ser a brecha para a entrada do “mornismo”.
Precisamos identificar em nossa vida o que proporciona este “mornismo”, o que nos impede de sermos inteiramente de Deus, o que não nos faz livres, o que hoje em nossa vida nos faz pecar constantemente. A inteligência é um dom de Deus e precisamos usá-lo principalmente para vencer o pecado e o demônio. Se quisermos ser cristãos autênticos, precisamos buscar uma coerência de vida e ser verdadeiros cristãos combatentes. Isso é radicalidade!
Sejamos violentos contra o demônio e contra o pecado e combatamos até o fim; não tenhamos medo de viver a aventura da radicalidade cristã, pois o mundo espera e deseja isso. Sejamos radicais sim! O céu nos espera!
“Desde a época de João Batista até o presente, o Reino dos Céus é arrebatado à força e são os violentos que o conquistam” (Mt 11,12).
Fábio Junior
Discípulo na Comunidade Pantokrator
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